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Publicado em 13 de março de 2018Sem comentários | Blog, Dicas de Saúde

Febre amarela: tudo o que você precisa saber

A febre amarela é uma doença infecciosa aguda, não contagiosa (não há transmissão de pessoa para pessoa, embora possa ocorrer transmissão da mãe para o filho, quando gestante), cuja manifestação principal é a febre. É causada por um vírus, sendo considerada no meio científico como uma flavovirose. É transmitida por insetos urbanos (Aedes aegypti – o mesmo que transmite Zika, Dengue e Chikungunya) e silvestres (Haemagogus sp e Sabethes sp). A forma urbana da doença não é identificada desde 1942, sendo atualmente a forma silvestre o grande problema.
Nessa forma silvestre os “macacos”, embora não transmitam a doença (e não devam ser combatidos/mortos), são hospedeiros e locais de multiplicação desses vírus. Os mosquitos citados, ao picarem macacos que estejam contaminados, se contaminam com o vírus e depois podem transmitir esses microorganismos a seres humanos que estejam nessas regiões.
Após a picada do inseto, o homem não imunizado começará a manifestar sintomas dentro de 3 a 6 dias (algumas pessoas levam até 15 dias). Porém 2 dias antes desse homem ter sintomas, já haverá vírus em sua corrente sanguínea e um mosquito que o picar pode se contaminar com o vírus e transmiti-lo a outras pessoas. O mosquito contaminado (lembrando que apenas as fêmeas picam) pode continuar transmitindo o vírus por até 2 meses.
A porcentagem de mortes (letalidade) da doença gira em torno de 5 a 10% dos que manifestam algum sintoma. Porém cerca de 10% desses doentes evoluem para a forma grave e, considerando apenas esta última forma, a letalidade vai de 20 a 50% (e a morte costuma ocorrer entre o 7º e o 10º dia da doença). Entretanto, como a maioria dos casos não é grave, ocorre uma resolução (“cura”) espontânea da doença em 2 a 3 dias após o início dos sintomas.
Como visto, a doença é séria, então vamos entender um pouco mais:

SINTOMAS DA FEBRE AMARELA:

Forma leve: Febre alta (sendo que a frequência cardíaca não costuma aumentar nesses doentes, ao contrário da maioria das outras doenças febris), dor de cabeça (principalmente acima dos olhos), dores musculares e lombares, calafrios, náuseas, “tontura”.

Forma moderada: além dos sintomas acima, já ocorre icterícia (amarelamento da pele e dos olhos), urina escura, alterações na função hepática (visto nos exames de sangue), hemorragias leves (como sangramento pelas gengivas e nariz).

Forma grave: O vírus invade diversos órgãos do corpo, como fígado, baço, rins e coração. É caracterizada quando a febre alta reaparece após uma melhora inicial. Ocorre dor abdominal, pressão muito baixa, pouca produção de urina, hepatite, com lesão às células do fígado, gerando grandes alterações em exames de sangue (TGO/AST), hemorragias sistêmicas (com a pessoa vomitando ou evacuando sangue escuro), coagulação disseminada nos vasos sanguíneos e outras alterações desse processo de coagulação. Posteriormente pode ocorrer coma e óbito.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL:

– No hemograma: Leucócitos (principalmente neutrófilos) reduzidos.
– VHS (que é um marcador inespecífico de inflamação, feito em coleta de sangue) próximo de zero.
– Na febre amarela grave: Aminotransferases (TGO/AST e TGP/ALT) acima de 1000 – o normal é pouco mais de 30; Diminuição de plaquetas, aumento do tempo de protrombina e queda do fibrinogênio do sangue (alterações de coagulação); bilirrubina total entre 2 e 10 mg/dL (aumentada, gerando icterícia). A creatinina (avalia a função renal) pode estar bem elevada (acima de 7 mg/dL).
– O diagnóstico específico pode ser feito encontrando IgM MAC (pelo método Elisa), a partir do 4º ou 6º dia após início dos sintomas ou ainda por isolamento viral e técnicas PCR, que já diagnosticam a partir do 1º dia da doença.

 

TRATAMENTO:

Não há tratamento específico. É apenas dado um suporte clínico ao doente, controlando os principais sintomas.

Forma leve: hidratação (preferencialmente oral); analgésicos, como o Paracetamol (e não usar AAS ou outros antiinflamatórios, por aumentarem risco de hemorragias); banhos frios, se febre.

Forma moderada: hidratação (oral ou venosa); analgésicos, como o Paracetamol (e não usar AAS ou outros antiinflamatórios); banhos frios, se febre; realizar exames laboratoriais para avaliar função do rim, fígado, entre outros parâmetros.

Forma grave: internação em CTI, com cuidados específicos, contínuos e rígidos, de acordo com o quadro clínico.

 

PROFILAXIA/PREVENÇÃO:

A prevenção da doença é feita com uso de roupas fechadas, de repelentes (que devem ser usados inclusive por CIM

A das roupas, em spray), de telas em janelas e de vacinação, quando indicada.

– VACINAÇÃO (“anti-amarílica”): Tradicionalmente seguia-se a “regra dos 10”: aplica 10 dias antes (da viagem para área de risco ou de recomendação de vacina) e adquire proteção por 10 anos. Mas atualmente admite-se que estão imunizadas todas as pessoas que receberam uma dose da vacina (não importando quando tenha sido a última dose). Ou seja, a vacina é em dose única e quem já tomou está imunizado definitivamente.

– A vacina contra febre amarela já faz parte do calendário infantil, sendo dada aos 9 meses de idade.

– Quem nunca tomou a vacina contra febre amarela ou quem não tem carteira de vacinação para comprovar, deve tomar 1 dose, desde que não tenha uma contraindicação. Lembrando que pode haver reação grave em pessoas alérgicas a ovo, gelatina e eritromicina, por isso não deve ser aplicada nesses casos.

Algumas pessoas tem contraindicação de tomar a vacina, pois possuem maior chance de desenvolverem efeitos graves (que embora sejam raros, podem ocorrer), como: encefalite (inflamação no sistema nervoso), alergia grave (anafilaxia) e até mesmo “febre amarela vacinal” (doença causada devido à vacina, sendo esta forma mais grave e causando morte em até metade dos casos).

 

NÃO DEVEM SER VACINADOS:

– Idosos (60 anos de idade ou mais) com doenças graves ou com saúde debilitada. Os idosos saudáveis devem ser avaliados por um médico, que pesará riscos e benefícios, liberando ou não a vacinação.

– Gestantes não devem ser vacinadas, a menos que estejam sob risco altíssimo (e nesses casos cabe ao médico avaliar risco/benefício de realizar a vacinação), pois podem gerar infecção no feto.

– Mães que amamentam seus filhos com menos de 6 meses de idade não devem ser vacinadas. Caso o risco seja muito grande, o médico liberará a vacina, porém a amamentação deverá ser suspensa por 14 dias. Vale dizer que, sendo isso feito, é possível que o leite da mãe “secará”, impedindo a continuidade do aleitamento, submetendo a criança a inúmeros prejuízos nutricionais e imunológicos.

– Pacientes HIV positivos (salvo em casos específicos, com imunidade adequada e carga viral adequada, avaliados e liberados pelo médico que os acompanha); em uso de altas doses de corticoides; em tratamento com quimioterapia; doenças reumatológicas ou dermatológicas em uso de imunonossupressores; doenças no timo ou retirada do mesmo (órgão que fica dentro do tórax).

Observação: doação de sangue pode ser realizada 1 mês após tomar a vacina.

 

Autores: Dr Wésley de Sousa Câmara e Sandra Ferreira do Couto Alves (Médico e Enfermeira, respectivamente, na Estratégia Saúde da Família). 
Atualizado em fevereiro de 2018

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